19 de outubro - Multilinguismo e Interculturalidade: um estudo etnográfico sobre a superdiversidade de uma comunidade no sul do Brasil

Bianca de Campos

Este trabalho tem como objetivo geral analisar e discutir as políticas educacionais do ensino de língua em uma comunidade superdiversa, buscando investigar como essas políticas representam os participantes da pesquisa e suas práticas situadas de linguagem em um cenário em que alunos descendentes de russos e quilombolas, provenientes da zona rural, interagem com os demais alunos, provenientes da zona urbana. Considerando a linguagem como prática social (PENNYCOOK,1994; 2010), as discussões apresentadas aqui procuram problematizar a complexidade linguística e cultural presente nas aulas presenciais-remotas com esse público e também como os participantes da pesquisa interpretam tais práticas diante a suas realidades locais onde acontecem encontros entre línguas, culturas e identidades. Pretendo fazer esta discussão a partir das perspectivas da Linguística Aplicada Crítica (MAKONI; PENNYCOOK, 2007; 2020; GARCIA, 2009; GARCIA; WEI, 2007; MENEZES DE SOUZA, 2019; BLOMMAERT, 2006; 2010) e dos estudos decoloniais (MIGNOLO, 2002; WALSH; MIGNOLO, 2019; SOUZA SANTOS, 2007), pois acredito que tais pensamentos contribuem para a compreensão e problematização das múltiplas práticas de linguagem dos alunos da escola, bem como para as ordens indexicais (re)estabelecidas pela e na linguagem. Trata-se de um estudo etnográfico, cuja abordagem é considerada qualitativa, possui base interpretativa devido ao seu interesse central, qual seja: “[n]o significado humano na vida social e a sua elucidação e exposição por parte do pesquisador” (ERICKSON, 1990, p. 77-78). Os objetos da etnografia são “as pessoas e seus mundos” (HYMES, 1996) e, portanto, este tipo de estudo tem interesse em descrever e interpretar significados culturais de determinado grupo. Diante de todas as particularidades apresentadas nos cenários que serviram como campo investigativo de pesquisa, acredito que a etnografia como princípio metodológico nos permite registrar as ações situadas dos participantes e também possibilita estabelecer conexões “entre a totalidade e o particular, entre as generalizações e as coisas muito específicas” (FABIAN, 2006, p. 509), visando sempre um processo investigativo reflexivo, aberto e colaborativo. Nesse momento da investigação, pretendo discutir questões de linguagem e raça relacionadas às identidades dos sujeitos, pois entendo que tais identidades são (re)negociadas indexicalmente (BLOMMAERT, 2006) nas relações escolares. Sendo assim acredito que tal discussão pode contribuir para questionar a colonialidade do poder e como os corpos desses alunos são “inventados” como monolíngues e monoculturais.